Tuesday, August 15, 2006

O Jantar


Depois de 3 horas de preparação, e mais de uma hora esperando por ele, o jantar jazia e esfriava calmamente na geladeira. Não adianta planejar nada, é planejar e furar, pensa. Queria uma noite especial, oras. Escolheu e executou com carinho e cuidado todos os rituais: depilação, banho, creme, perfume, roupas. Passou mais uma hora, e se sentiu tão ridícula que foi tomar um banho, dessa vez para desmontar o ridículo da maquiagem, da noite. Ele não sabia o quanto ele era importante para mim, ela conclui. Já no quarto, ela ouve a chave girar na porta. Ele chama por ela e ela não responde, finge um excesso de atenção no livro mais próximo que ela abriu em uma página qualquer, finge não ouvir, finge não ligar para as horas de atraso. Ele entra e sai do banho imaginando o porquê do silêncio dela, vai para a cozinha e abre a geladeira. O jantar conta toda a história para ele. Caminha com passos firmes para o quarto, com rispidez ele arranca o livro das mãos dela e lhe beija a boca. Fazem um amor bruto, rude, aproximando-se à violência. Dessa forma peculiar massacram na carne e com prazer, o ódio e o rancor do dia. Tempos depois desenterram o jantar frio e dividem o mesmo prato.

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